GRAVEL Zone Brasil / Depoimento - Qual é o melhor tipo de sapatilhas para o Ciclismo Gravel?

Quando a experiência prática contradiz o senso comum.

Entre todos os números, talvez o 7 seja o mais emblemático, já que muitos o consideram mágico, porque é uma composição do sagrado número 3 e do terreno número 4, formando assim um elo entre o céu e a terra. São 7 os dias da semana, as fases da lua duram 7 dias, o planeta tem 7 mares. O número 7 também está presente no título de livros e filmes famosos e por aí vai. Dizem que 7 anos é o período de tempo necessário para saber se um casamento vai realmente dar certo ou não, pois bem, esta nossa história sobre sapatilhas começa 7 anos atrás, antes mesmo de eu subir pela primeira vez numa Gravel Bike.

Sapatilhas SCOTT MTB RC 2020 - Foto: GRAVEL Zone Brasil


No ano de 2013 minha principal atividade era testar produtos para o P29BR (https://www.29er.com.br/), na época me considerava um multiciclista, participava de provas de MTB Maratona, Gran Fondos, fazia Bikepacking e eventualmente até me arriscava no Enduro. Como um atleta com fortes raízes no Mountain Biking, independente do tipo de bike que eu estivesse usando, minha preferência recaia sempre pelos pedais clip de MTB, até para usar na Bike de Estrada. Nessa ocasião decidi buscar umas sapatilhas versáteis, que pudessem encarar qualquer desafio, sempre focando em desempenho. O modelo escolhido por mim foi o MTB Premium da SCOTT, top de linha naquele ano, eram leves e bastante rígidas por conta do seu solado em fibra de carbono HMX, a mesma utilizada nas bikes mais caras e leves da marca.

A promessa era de uma transferência de potência dos pedais à bike sem precedentes, mas confesso que desde os primeiros rolês a dureza da sola me parecia exagerada. Sem me convencerem totalmente, ainda fazia um rodízio entre elas e um outro modelo parecido com um tênis de sola mais macia. 

SCOTT MTB Premium
Sapatilhas SCOTT MTB Premium 2013, novas - Foto: Projeto 29 Brasil


De todas as formas, essas sapatilhas MTB Premium se mostravam um tanque de guerra em termos de durabilidade, com 4 anos de uso e quase 30 mil quilômetros rodados a sola simplesmente parecia não gastar nunca, sua estrutura estava quase intacta e seu design era completamente atual, a única manutenção necessária tinha sido trocar os cordões do sistema Boa, algo que eu mesmo fazia, com um kit que a própria marca vende.

O tempo ia passando e em 2014 fui apresentado às Gravel Bikes na Interbike em Las Vegas, contudo somente em 2017 fiquei realmente interessado pelo formato e decidi adquirir a primeira Gravel, fato que mudou completamente minha vida de ciclista. Ela chegou e acabei "esquecendo" na garagem minhas outras bikes, gostei tanto de pedalar no estradão em alta velocidade, que tomei a decisão de, a partir daquele momento, concentrar todas as minhas forças na modalidade. O Gravel competitivo implica em treinamentos árduos para provas de pelo menos 100 milhas (160Km), são muitas horas semanais encima da bike e foi justamente então que "redescobri" minhas sapatilhas de sola rígida.

Experimente pedalar algumas horas ininterruptas usando sapatilhas com um solado de menor rigidez, você vai perceber que o calçado que parece confortável à princípio, termina por gerar pontos de pressão na sola dos seus pés, resultando em uma dor bastante desagradável em situações mais extremas. A lógica é mais ou menos similar à dos selins, ou seja, aqueles com espuma muito macia, são os menos confortáveis nos pedais longos.

Um casamento feliz com as sapatilhas da SCOTT.

Depois de 7 anos de muita estrada, posso afirmar que meu casamento com essas sapatilhas da SCOTT foi um sucesso total e já não sei viver sem elas. No final de 2019, após ter acumulado minha maior distância pedalada em um ano, percebi que era hora de renovar os votos desse casamento.

Sapatilhas SCOTT MTB Premium, 7 anos depois - Foto: GRAVEL Zone Brasil


Não tinha como deixar de ser fiel a uma marca cujas sapatilhas aguentaram firmes (e bonitas) durante tanto tempo, sendo assim as escolhidas para me acompanharem durante os próximos anos foram as novas sapatilhas SCOTT MTB RC. O prefixo RC nos produtos da marca suíça significa "Racing Concept", são aqueles itens que dentro da linha representam o máximo em tecnologia e são desenvolvidos para proporcionar aos seus atletas e consumidores uma performance competitiva de excelência. O par dessas sapatilhas é bastante leve, pesa pouco mais de 700 gramas.

As sapatilhas MTB RC contam com o já famoso e preciso sistema de ajuste Boa®, aqui em uma versão "dual zone", ou seja, são dois dials que permitem um ajuste individual de aperto na parte inferior e superior da sapatilha, oferecendo precisão e conveniência, podendo inclusive ser acionados enquanto o ciclista estiver pedalando, em caso de necessidade de algum ajuste de última hora. 

Suas solas em fibra de carbono HMX, apresentam índice de rigidez 10, o máximo entre todos os modelos da marca e representam a materialização do conceito "#ZeroLoss", ou perda zero, significando que toda a energia despejada nos pedais pelo piloto seja transferida de maneira integral para a bike, teoricamente sem watts perdidos, algo que pode fazer a diferença em uma prova mais longa como são as competições de Gravel Bikes. Não posso deixar de mencionar duas características "invisíveis" que eu acho muito legais, a chamada "Power Zone" e o "Axial Flex", basicamente os engenheiros da SCOTT trabalharam em conjunto com cientistas para desenvolver uma sola capaz de minimizar a tensão nos joelhos e calcanhares, além de aumentar o conforto e colaborar para a diminuição das lesões por excesso de treinamento. Funciona? Garanto que sim!

Em contraste com suas solas rígidas, estão as super confortáveis palmilhas com o sistema Ergologic desenvolvido pela própria marca, que com o auxílio de partes removíveis de EVA permite a personalização dessas palmilhas, de modo que se adaptem ao contorno dos pés de cada piloto, afinal as características físicas um atleta nunca são iguais a de outro, por isso eu, pessoalmente, valorizo equipamentos que levam isso em consideração no momento de sua concepção. 

Para completar, o solado com borracha Sticki é muito seguro naqueles momentos em que temos que descer da bike, oferecendo um ótimo grip, diferente de outras sapatilhas top de linha que parecem duras e instáveis demais na hora de empurrar ou carregar a bike. Em todas as provas Gravel que disputei nos Estados Unidos, sempre tive que atravessar rios ou alagados, trechos que às vezes são impossíveis de passar pedalando, nessas condições o solado Sticki de fato brilha.

A estreia das minhas sapatilhas SCOTT MTB RC aconteceu em condições extremas (na realidade perfeitas para um teste real) durante a disputa da "The Mid South Gravel 2020" em Oklahoma no último mês de março, exatamente antes de se iniciarem as quarentenas mundo afora. Essa prova, uma das mais importantes do circuito americano, que antes se chamava Land Run 100 e teve seu nome trocado neste ano por supostamente fazer alusão a um massacre de povos indígenas americanos, é famosa pelas condições meteorológicas imprevisíveis. Nesta edição não foi diferente, a corrida aconteceu debaixo de uma chuva torrencial, num frio de quase zero, em um terreno inóspito conhecido como "Red Clay", que pode ser traduzido como a lama vermelha e pegajosa do Meio-Oeste americano.
 

Condições extremas na The Mid South Gravel 2020 - Foto: 241 Photography


Tive, por exemplo, que passar caminhando com a bike nas costas em um trecho de erosão onde corria uma surreal enxurrada de barro. E não é que as minhas sapatilhas não ficaram pesadas depois disso?! Toda a água escoou rapidamente dos meus pés por conta do seu tecido respirável estrategicamente posicionado. O acabamento da superfície das sapatilhas MTB RC, com alguns pontos que inclusive tem um acabamento envernizado, repele o barro -também a poeira- de maneira muito efetiva, de modo que não fique grudado e você não tenha que carregar o peso extra de lama nos pés. Um pano úmido é o suficiente para rapidamente limpar essas sapatilhas.

Adil Filoso cruzando a linha de chegada na The Mid South Gravel 2020 - Foto: 241 Photography

Repense!

Criei este projeto batizado de GRAVEL Zone Brasil justamente para compartilhar com você o conhecimento que tenho acumulado durante todos esses anos e inspirar cada leitor interessado em viver a melhor experiência possível a bordo de sua bicicleta, por isso se você pretende entrar na onda viciante dos pedais realmente longos, pode ser um bom momento para repensar seus conceitos em relação a que tipo de sapatilha utilizar e começar a considerar os modelos com sola mais rígida em suas intenções de compra. Como competidor e piloto de Gravel Bikes só posso festejar esse meu casamento de longa data com a SCOTT. Ainda que as sapatilhas MTB RC sejam vendidas no mercado nacional por cerca de 1.800 Reais, esse investimento inicial se paga perfeitamente, considerando sua durabilidade e a tecnologia envolvida na produção de um produto top de linha. Se quiser experimentar, não vai se arrepender.

Keep Gravel Riding!


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