GRAVEL Zone Brasil / Opinião - Qual é a melhor opção? Uma Gravel Bike em aço, alumínio ou carbono?

Por Adil Filoso

Dividindo com você, minha experiência pessoal.

Encontrar informações sobre Gravel Bikes é fácil hoje em dia, em uma busca rápida no YouTube você irá se deparar com centenas de vídeos falando sobre nossa paixão, por outro lado, essa facilidade esconde um problema que considero grave. Vejo muita gente bancando o professor e dando aulas sobre Gravel, sem de fato contar uma experiência prática ou mesmo o conhecimento minimamente necessário para ajudar seus seguidores com informações de fato relevantes e consistentes.

O artigo que você está lendo agora, sobre o tipo de material de quadro mais adequado para o Ciclismo Gravel, eu já gostaria de ter escrito há bastante tempo, contudo decidi que somente iria publicar este texto depois de testar, de maneira séria, atenta e prolongada cada tipo de material, para então emitir minha opinião pessoal e te auxiliar com mais propriedade a escolher a próxima Gravel Bike de acordo ao seu budget e necessidades pessoais.

O aço.

Primeiro material empregado para a produção de bicicletas em larga escala, na indústria moderna de bikes o aço acabou perdendo espaço para o alumínio e a fibra de carbono, entretanto com o passar dos anos, o aço ganhou uma aura "cult", devido às suas características, facilidade em se trabalhar com esse tipo de material e a evolução tecnológica fomentada por grandes fabricantes de tubos como a Reynolds e a Columbus, o aço virou o queridinho dos framebuilders mundo afora e é hoje a principal escolha daqueles quem procuram uma bike com geometria customizada. Seguramente você já ouviu em algum lugar a expressão "Steel is Real", ou "O Aço é Real" em português, um verdadeiro mantra para a legião de adoradores que orbita em torno desse material.

Ritchey Swiss Cross - Imagem: GRAVEL Zone Brasil

Hoje utilizado principalmente nas chamadas "bikes de supermercado", o aço carbono, mais barato e pesado, cedeu seu lugar ao Chromoly na produção de bicicletas de performance. Também conhecido pela sigla CrMo ou "Cromo" para facilitar, é uma liga de aço mais nobre, resistente e menos pesada, levando em sua composição uma porcentagem dos metais Cromo e Molibdênio.

Mas o que o aço tem de tao especial? Sua fama reside nas características elásticas do material, que quando bem aproveitadas, se traduzem supostamente em uma bike que absorve melhor os impactos do terreno e oferece uma pedalada mais suave. 

E na prática, uma Gravel Bike com quadro em aço é realmente mais suave na estrada? Melhor não generalizar. 

Desde os tempos do P29BR, já tinha adquirido algumas mountain bikes de Chromoly de grandes marcas como a Raleigh e a Niner. À princípio achava legal o "hype" de pedalar bikes com quadro em aço, mas com o passar do tempo, percebi que não havia uma vantagem tao clara em termos de conforto que fizesse valer a pena o fato de "carregar" um quadro claramente mais pesado. Com as Gravel Bikes era a mesma coisa, todas as vezes que tinha experimentado modelos em aço durante eventos como a extinta Interbike, não me pareciam melhores que os em alumínio, por exemplo, até porque no caso das Gravel Bikes o conforto pode ser amplificado com o uso de pneus convertidos para tubeless, além de outros artifícios, como por exemplo a opção por um canote em carbono com alguma flexibilidade.

Tom Ritchey, o mais famoso framebuilder do aço - Imagem: GRAVEL Zone Brasil

Como mencionei antes, não queria emitir uma opinião sem mergulhar fundo no assunto, foi assim que no começo deste ano, quando buscava uma nova Gravel Bike para competir, optei pelo modelo Swiss Cross da famosíssima Ritchey. Até o momento só tinha ouvido maravilhas sobre os tubos Ritchey Logic, lapidados ao longo de muitos anos pelo próprio Tom Ritchey, considerado o "Guru do Aço".

Seis meses depois posso dizer, com certeza, que no caso do aço, os tubos de grife fazem total e absoluta diferença. A Swiss Cross é uma bicicleta impressionantemente suave, posso afirmar que nas descidas acidentadas é a melhor e mais rápida Gravel Bike que já utilizei. É tao leve quanto muitas das mais leves bikes em alumínio do mercado, chegando a rivalizar com modelos em carbono. Minha bike completa pesou 9.7Kg. Nos pedais mais longos o ganho em conforto fica ainda mais evidente, por isso é perfeita para provas de ultradistância e o Bikepacking.

No Brasil temos fabricantes de destaque de bikes em aço sob medida, inclusive com representatividade no exterior, como a espetacular República Bicicletas (https://www.republica.cc/). Vale citar também a Bornia & Cox (https://www.borniaecox.com/) pela qualidade dos seus quadros, além da bem sucedida Dinâmica Bicicletas (https://dinamicabicicletas.com.br/) com seu modelo Guará.

Pros das Gravel Bikes em aço: 

- Quando as propriedades do aço são bem aproveitadas, a elasticidade do material oferece ao piloto uma experiência gratificante, entretanto essa característica é muito menos evidente, muitas das vezes quase imperceptível, em quadros produzidos com tubos mais genéricos.

- Disponibilidade e maior facilidade de manipulação do material.

Contras das Gravel Bikes em aço:

- Como o aço apresenta uma densidade maior que a do alumínio, é naturalmente mais pesado. Ainda que os fabricantes argumentem que por isso podem usar tubos de menor diâmetro, em geral um quadro em alumínio de qualidade vai ser sensivelmente mais leve que outro em aço.

- Pensando em termos de Gravel competitivo, um modelo com quadro em aço invariavelmente acelera menos rápido que as bikes com quadro em alumínio ou carbono.

O alumínio.

É atualmente o material mais difundido e utilizado na produção de bicicletas de performance. O alumínio é leve e pode ser bastante rígido, além de possuir uma boa relação entre preço e qualidade. Novos processos produtivos, como a hidroformagem, permitem a conformação dos tubos com grande precisão nos mais distintos formatos e espessuras, sem contar a variedade de ligas à disposição dos fabricantes, o que permite aos engenheiros ajustarem as características desejadas no momento de conceber cada quadro.

Canyon Inflite AL - Imagem: GRAVEL Zone Brasil

Vendo fotos de novos lançamentos de bicicletas com quadro em alumínio, principalmente aquelas das grandes marcas, acredito que muitos já ficaram na dúvida se um ou outro quadro era realmente fabricado em alumínio, porque muitas das vezes podem até parecer fibra de carbono, tamanho o cuidado com as soldas e formatos inusuais de tubos empregados. Para citar uma marca, a Cannondale é referência em quadros de alumínio magistralmente construídos, a Specialized também volta e meia aparece com quadros especiais fabricados com base nesse material. 

No Brasil vale destacar o quadro em alumínio produzido no interior de São Paulo pela Show Bikes, um modelo acessível, que tem servido a muitos interessados como porta de entrada ao Mundo Gravel. 

Não custa lembrar sempre, que se você está começando, um ponto essencial para que possa curtir ao máximo a experiência de pedalar uma Gravel Bike, é utilizar pneus convertidos para tubeless. Por que? Para usar uma calibragem muito menor e poder andar mais rápido, com mais segurança e menos fadiga.

Ainda que o alumínio seja a principal escolha das marcas para a produção de bicicletas de nível intermediário, existem também modelos em alumínio de grife, como os fantásticos quadros produzidos pela casa inglesa Mason Cycles (https://masoncycles.cc/) empregando tubos italianos Dedacciai.

Pros das Gravel Bikes em alumínio: 

- A relação entre custo e desempenho. Um quadro em alumínio top de linha pode ter uma performance equivalente à de um quadro em fibra de carbono intermediário, custando a metade do preço ou menos.

- Além do preço difícil de bater, a leveza é uma das fortalezas do alumínio. Uma das melhores bikes que tive nos últimos tempos, a Canyon Inflite AL montada com Shimano 105, pesava apenas 9.2Kg. Trata-se de um modelo muito interessante para aqueles que pensam em começar a competir.

- A durabilidade é outra característica relevante dos quadros em alumínio, sem contar que o material é reciclável.

Contras das Gravel Bikes em alumínio:

- Existe um mito de que o alumínio é rígido demais, contudo essa característica já pode ser plenamente trabalhada pelos fabricantes durante o processo construtivo e, inclusive, mitigada pelos proprietários no momento da escolha dos componentes.

A fibra de carbono.

Quando o assunto é competição em alta performance, definitivamente a fibra de carbono é a escolha mais óbvia. 

Por conta do imprescindível trabalho de desenvolvimento por trás de qualquer quadro em carbono das grandes marcas (desenho, protótipos, túnel de vento, etc), do valor do material e da complexidade do processo produtivo, que envolve consideráveis horas de trabalho manual especializado, o produto final vai sempre custar mais caro que um similar em alumínio ou aço. 


Allied Able, um quadro premium em carbono - Imagem: GRAVEL Zone Brasil

A engenharia do carbono evoluiu tanto e atingiu um padrão tao elevado, que as espessuras dos tubos e o arranjo das fibras podem ser hoje meticulosamente ajustados de modo que o produto final ofereça propriedades avançadas em termos de transmissão de potencia, flexibilidade e rigidez controladas, bem como absorção de impactos.

Você deve estar pensando que existem quadros genéricos mais acessíveis em fibra de carbono espalhados pelos "Aliexpress" e "Mercados Livres" da vida, entretanto posso garantir que nesse caso o menor preço é sim sinônimo de muito menos cuidado na fabricação, pior desempenho, além, é claro, de um nível de segurança discutível. A fibra de carbono não se deforma ou amassa como um metal, ela se rompe, muitas vezes sem prévio aviso, por isso neste caso vale a pena considerar sempre os modelos das marcas de melhor reputação no mercado.

Salsa Warbird, uma Gravel Bike de competição - Imagem: GRAVEL Zone Brasil

Em especial, tive uma experiência muito gratificante com a Salsa Warbird, a primeira Gravel Bike do mercado projetada especificamente para competição. A minha já era da geração 3 e conta seat stays projetados para absorver e distribuir impactos, bem com oferecer muito espaço para pneus mais robustos e facilidade de escoamento de barro, além de tudo Salsa Warbird acelera de uma maneira fantástica e apresenta muitos pontos de montagem para bolsas e acessórios. Uma máquina para quem curte velocidade!

Pros das Gravel Bikes em fibra de carbono:

-Podem ser leves, rígidas, rápidas, absorver bem as imperfeições do terreno, além de contar um ótimo desempenho aerodinâmico. Essas características podem aparecer todas juntas e otimizadas de acordo ao gosto de cada equipe de desenvolvimento de produto.

Contra das Gravel Bikes em fibra de carbono:

- Um quadro em fibra de carbono usado de maneira séria em competição pode ter uma vida útil bem menor que a de um modelo em alumínio ou aço, por isso, antes de comprar você deve considerar sempre a variável durabilidade, principalmente se não tem patrocínio e precisa arcar com os custos do seu próprio equipamento. "Ahhh, mas existem quadros com garantia vitalícia" você pode responder. Cuidado, na prática nem sempre isso significa tranquilidade extra para o comprador na hora de acionar a garantia.

- Não é reciclável.

E o titânio?

Um material nobre que promete o desempenho da fibra de carbono, a durabilidade do alumínio e as características elásticas do aço, quadros em titânio são raros no mercado de Gravel Bikes e logicamente caros, por isso prefiro não opinar sobre eles e deixar para você leitor contar sua experiência, caso já tenha andado em um.


Keep Gravel Riding!

Comentários

  1. Muito legal o texto e as referências que traz! Você já ouviu falar do quadro gravel da marca brasileira Cernunnos? Tô procurando alguma gravel no mercado e achei um modelo deles, Touro, que é bem bonita e parece ser bem acabada, mas tem pouquíssimas referências na internet.

    Eles são uma grande referência em bike fixa no Brasil, mas o projeto da gravel iniciou ano passado, mas deram um parada pra focar numa versão nova da fixa.

    Sei que é um quadro em aço carbono, mas com poucas referências de usuários.

    Abraço!

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    1. Olá Harlan, obrigado por acompanhar o GRAVEL Zone Brasil!

      Sim, eu conheço esse quadro, mas nunca andei nele. Visualmente me incomoda o fato de que o head tube parece muito curto, o que pode ser um problema se você pretende fazer pedais mais longos, nessas condições uma posição mais elevada faria muita diferença para você em termos de conforto.

      Abs!

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    2. Obrigado, Adil! Acabou que o vendedor desistiu de vendê-la e continuo minha saga. Minha esposa acabou de comprar uma Sense Versa, que com muita dificuldade, é praticamente a única que encontramos no mercado. É impressionante como a bike tamanho 48 é grande! Uma pessoa com cerca de 1,60m não consegue pedalar bem nela.

      Outra coisa impressionante é a qualidade bem baixa de alguns materiais, tipo fita de guidão, que descasca só de pegar e selim.

      Andei só uma vez na cidade, com pressão mais baixa, e foi bem legal, mas ainda vou colocá-la à prova.

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  2. Adil, acompanho seu trabalho e hoje estou com uma Sense Versa, vi alguns artigos que você fala de pneu aqui. Na sense vem o
    SCHWALBE G ONE ALL ROUND 700x40C.

    O que você acha que eu posso usar de similar na minha de boa qualidade?

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    1. Olá Daniel, desculpe a demora para responder, mas eu não tinha recebido a notificação da postagem da sua pergunta. Considero esse pneu da Schwalbe um dos melhores, mas se você quiser testar outras opções, gosto do Maxxis Rambler e do Panaracer GravelKing SK. Abs!

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  3. Excelente texto, bem explicativo!
    Eu uso uma Jamis Renegade Expat, o quadro é de Cromoly e estou muito satisfeito. Sim, é um pouco pesada, cerca de 10, 3 Kg, mas como não uso para competir, está ótimo. Agora confesso que penso em montar outra Gravel no quadro da Show bikes, prinipalmente pela possibilidade de colocar pneus mais largos!

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    1. A Jamis é uma excelente bike e o peso me parece bem adequado. Qualquer dúvida, só perguntar. Abs!

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  4. Oi Adil. Entrei no mundo Gravel com uma VERSA COMP e já estou pensando nos próximos upgrade, kkk. Não sei se vc se lembra, mas em 2005 comprei de vc uma MTB Kona AA, um dia desses encontrei ela rodando aqui por Niterói e depois de mim ela já passou por 2 donos, kkkk.
    Parabéns pelo conteúdo.
    Abraço @sartoriobikes

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    1. Caramba, que legal, o mundo é pequeno mesmo! Bons pedais com a sua Versa. Abs!

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