GRAVEL Zone Brasil / Teste - Suspensão ProShock Grap

Gravel Bike com suspensão: exagero ou necessidade?

Há quase 30 anos no mercado, sediada em São José dos Campos, um polo de indústrias de ponta no Brasil, a ProShock é uma empresa que sempre se mostrou muito atenta aos movimentos do mercado. Ainda na época dos primeiros anos do nosso trabalho com as 29ers, em 2010 eles já vendiam um modelo de suspensão compatível com o formato de rodas que ainda engatinhava em nosso país, sendo assim, quando me ligaram há alguns meses perguntando se eu queria testar uma nova suspensão que estava sendo desenvolvida para as Gravel Bikes, minha resposta foi um sonoro sim, sem titubear.

Nova suspensão ProShock Grap para Gravel Bikes

Mas você graveleiro, precisa mesmo de uma suspensão?

Fui apresentado às Gravel Bikes na finada Interbike em Las Vegas em 2016. No ano seguinte já adquiri uma e de lá para cá deixei o Mountain Biking completamente de lado para me dedicar exclusivamente ao Gravel competitivo. 

Me considerava um graveleiro purista, por isso sempre torcia o nariz quando ouvia falar de suspensão. Vivendo no México, tive a oportunidade de participar das principais provas da categoria nos Estados Unidos e em nenhuma ocasião, sequer cheguei a cogitar o uso de uma suspensão.

Tudo começou a mudar quando, depois de 8 anos fora, regressei ao Brasil em meados de 2021. Logo no meu primeiro pedal, um Bikepacking no interior de São Paulo, as estradas de terra estavam tão maltratadas, que sinceramente desejei estar usando uma suspensão na minha Gravel Bike. Ainda que bem preparado fisicamente, terminei o pedal com os bracos super doloridos, mesmo usando pneus relativamente largos e calibrados com uma pressão mais baixa, gracas ao tubeless.

Voltando para casa, conversei com meu amigo Fabricio, proprietário das marcas Cadence e Show Bikes, e descobri que ele também partilhava da mesma ideia. Ficamos então interessados em realizar um teste prático, mas não havia nada disponível no mercado nacional, então o negócio foi diminuir o curso de uma suspensão chinesa genérica de MTB. A Cadence construiu um quadro protótipo para testar alguns conceitos e já aproveitou para trabalhar na geometria para receber essa suspensão.

Assim que coloquei as mãos nessa nova Gravel Bike equipada com a suspensão, fui repetir a mesma cicloviagem da vez anterior. Na realidade, não foi surpresa que os meus tempos continuaram praticamente os mesmos, não senti ganho de desempenho num primeiro momento, entretanto voltei para casa me sentindo muito menos cansado, ainda que o funcionamento da suspensão adaptada deixava muito a desejar.

Muitos podem dizer: se você quer suspensão, compre uma Mountain Bike. Sempre entendi as fortalezas e limitações das Gravel Bikes, por isso considero que pedalando no ambiente para o qual foram primordialmente pensadas, no chamado estradão, são as mais velozes e ainda muito divertidas, além disso, em pedais de longa distância o guidão drop é muito bem vindo, porque te oferece várias opções de pegada e você pode variar o posicionamento sobre a bicicleta, o que torna mais palatável esses deslocamentos longos.

Yes, nós temos suspa!

Pouco depois de levar a cabo esse experimento, recebi da ProShock a notícia de que estavam em fase final de desenvolvimento de uma suspensão para as Gravel Bikes, mas ainda a tempo de eu dar algumas sugestões e dicas. Confesso que fiquei realmente animado com a iniciativa da marca. Algumas semanas depois, ela chegou em casa. Oferecida em 3 cores, escolhi a bonita verde musgo.

A primeira coisa que notei quando abri a caixa da suspensão batizada de Grap, foi seu acabamento, sem sombra de dúvidas trata-se de um produto Premium. Desenvolvida a partir da bem sucedida plataforma Viber Spider, a nova suspensão da Proshock para Gravel Bikes conta com um monobloco injetado em liga de magnésio, onde se destaca o exclusivo arco Spider de perfil trapezoidal, projetado para conferir altos índices de rigidez ao conjunto.

O premiado conjunto Spider

As hastes de 32mm com acabamento anodizado, apresentam, segundo a fábrica, uma camada de anodização dura com espessura maior que a utilizada por outras grandes e tradicionais marcas no mercado internacional, assim a durabilidade desse acabamento é muito maior e você dificilmente vai encontrar por aí suspensões da ProShock com as hastes descoradas e gastas, mesmo que já estejam bastante usadas.

A coroa ("crown") é forjada em liga de alumínio de alta resistência com tubo de direção tapered. As tampas localizadas no topo das hastes são rebaixadas para não tocarem no quadro e anodizadas com gravação a laser, coisa fina.

A Grap vai ser comercializada com duas opções de curso, 30 ou 40mm, bem como eixo passante de 12x100mm, o padrão mais atual para a categoria, ainda que esteja disponível também numa versão para blocagem tradicional de 9x100mm. O espaço para os pneus é generoso, até 700x50mm e ainda permite o uso de rodas 27.5 com pneus de até 2.1 polegadas, a concorrente da RockShox não.

A ProShock grap é  compatível com rodas 700C e 27.5"(650B)

Por falar em padrão, esta suspensão é compatível com freios do tipo Post Mount, os mesmos usados nas Mountain Bikes e em inúmeras Gravel Bikes, mas segura que aí que vem um dos diferenciais do produto da ProShock. A marca desenvolveu um adaptador para freios do tipo Flat Mount, mais modernos, e ele está incluído no pacote, sem custo adicional, então você que é proprietário de uma Gravel Bike mais recente, também está coberto, mas atenção, em caso de usar o adaptador, o rotor de freio dianteiro tem necessariamente que ser de 180mm.

Adaptador para freios Flat Mount incluído no pacote

Talvez a grande sacada da ProShock foi dotar a Grap de um sistema de amortecimento hidráulico com trava automática, representado pela sigla SVI, mas antes de falar mais sobre essa funcionalidade tao especial, vamos voltar no tempo, à primeira metade dos anos 2000, quando apareceram no mercado as suspensões os primeiros sistemas de plataforma estável. 

Basicamente, se bem ajustado, esse tipo de sistema permitia uma pedalada agressiva sem perdas de energia com o “bobbing” (movimento de sobe-desce da suspensão quando se pedala de pé ou se transmite peso excessivo ao guidão), na teoria liberando a suspensão apenas quando as forcas que atuavam sobre ela vinham do terreno, não do piloto. Os grandes rivais na época eram a Manitou com o SPV ("Stable Platform Valve") e a Fox com o Terralogic. 

Avançando no tempo, a Manitou quase faliu e abandonou a ideia, mas o Terralogic continuou evoluindo ao longo dos anos e se transformou no famoso Brain, que hoje equipa muitos modelos de bikes da gigante Specialized.

A ProShock identificou o potencial da plataforma estável e aproveitando todas as suas características positivas, se debruçou sobre as eventuais debilidades que apresentava e concebeu o SVI, funcionalidade que permite ao ciclista regular o sistema hidráulico para que a suspensão se mantenha firme ao pedalar por terrenos regulares, no asfalto por exemplo, mas amorteça normalmente os impactos de terrenos irregulares.

O SVI também continuou evoluindo desde o seu lançamento e chega hoje otimizado à Grap, com uma velocidade de reação, que comprovamos, é impressionante. O fato de dispensar a necessidade de uma trava no crown é perfeito para as Gravel Bikes, você não precisa tirar as mãos do guidão para travar ou destravar a suspensão, como ocorre por exemplo com a RockShox Rudy, lancada há poucos meses.

O regulador do Sistema SVI na ProShock Grap

Vale ainda mencionar que a linha Spider da ProShock é um projeto desenvolvido pela marca em conjunto com Centro de Design Integrado do SENAI e foi um dos selecionados para o prestigioso Prêmio de Design do Museu da Casa Brasileira (https://www.instagram.com/p/CU-gHqKlbdz/). 

Mas posso instalar uma suspensão na minha Gravel Bike?

Muitas das Gravel Bikes mais novas, assim como o protótipo da Cadence que usamos para testar a Grap, já apresentam a geometria ajustada para o uso de uma suspensão, que tem a medida conhecida como "axle-to-crown" (eixo-coroa) mais longa que de um garfo rígido tradicional, contudo para a esmagadora maioria, instalar uma suspensão em sua Gravel Bike vai implicar em algumas mudanças na geometria do conjunto, como os ângulos de direção e do selim mais relaxados (deitados) entre 1 e 2 graus, o central relativamente mais alto e o entre-eixos um pouquinho mais longo, alterações que são de fato relevantes, mas adiantamos que em geral não vão arruinar seu pedal, ainda que você terá que se acostumar com alguma mudança de comportamento na bicicleta, então é o momento de considerar se vale mais o benefício da suspensão ou não.

ProShock Grap montada no protótipo de testes da Cadence Bikes

O modelo de 40mm testado aqui no GZB, pesou pouco menos de 1.700 gramas já com a espiga cortada. Se comparamos como um garfo rígido de alumínio como aqueles que equipam a Sense Versa ou a Show Gravel, é quase 1 quilo a mais.

Configurando a Grap.

Com meu peso corporal de 72Kg, a ProShock recomenda calibrar a suspensão com algo entre 100 e 120psi com a regulagem do SVI completamente aberta. Depois é só sair na rua para subir e descer algumas guias e ajustar a sensibilidade da trava automática, se quiser você pode andar com ela aberta, mas no caso das Gravel Bikes, é interessante que a suspensão se movimente pouco nas chamadas ondulações de baixa velocidade (que são as menores imperfeições do terreno), aproveitando a vantagem dos pneus tubeless e depois esteja liberada quando atingir os trechos mais esburacados. Esse comportamento é conseguido com o SVI ativado.

Vale mencionar que segundo a fábrica, nas primeiras horas de uso a suspensão pode ser um pouco mais firme em função das vedações novas e dos mancais que saem sensivelmente mais apertados da linha de produção.

Hora da ação.

Para mim o "hot spot", ou a melhor regulagem para a Grap, são 100psi na câmara de ar e apenas 1/3 de volta no botão do SVI, suficientes para um pedal realmente prazeroso. O controle de retorno da Proshock, localizado na parte inferior da canela direita, tem uma amplitude menor que de outras marcas, trazendo apenas o limite de variação realmente útil, sem chegar aos extremos, então preferi a regulagem mais rápida.

Confesso que assim que eu toquei a terra pela primeira vez com a Grap, parecia que estava pedalando sobre um colchão de ar, até parei para olhar se os pneus estavam murchos, tamanha a diferença que fez em relação ao garfo rígido. Posteriormente essa sensação passou e até esqueci que a suspensão estava lá, o que também é um bom indício.

A trava automática é de fato uma maravilha. Pude atacar nas subidas com pouquíssimo movimento da suspensão e encarar as piores estradas usando inteligentemente todos os 40mm de curso disponíveis. O abrir e fechar da trava, como já citamos antes no texto, é muito rápido e eficiente.

No final das contas, a curva de compressão mais linear me pareceu bastante adequada às minhas necessidades. Se por acaso você estiver batendo fim de curso com facilidade, mesmo com sua calibragem ideal, é hora de lançar mão dos redutores de câmara de ar (tokens) que a ProShock também inclui no pacote da Grap (outro diferencial), com eles é possível conseguir mais progressividade na segunda metade do curso, sem prejuízo no uso dos primeiros 20mm. Sua instalação é bastante fácil e a fábrica disponibiliza um vídeo explicando o processo (https://www.youtube.com/watch?v=X16FWRF8TAs).

No final das contas, um ponto "negativo" foi que a Grap me deu tanta confiança para atacar nos piores trechos de estrada, que em duas ocasiões eu acabei rasgando meus pneus traseiros 700x40, por isso considero que pneus mais largos podem casar melhor com a dinâmica que a Grap proporciona ao seu pedal Gravel.

E aí?

Depois de um mês usando a Grap, fui forçado até a repensar uma das minhas primeiras conclusões sobre o produto. Parecia que não no início, mas em algumas ocasiões eu passei andar mais rápido com a suspensão e até bater alguns tempos no Strava nos trechos mais técnicos, entretanto de todas as formas, é mesmo no quesito conforto que o produto da ProShock mostra que pode fazer do seu pedal Gravel uma experiência ainda melhor. Sim, tem o fator peso, mas no caso de um Bikepacking, isso fica completamente ofuscado pelo ganho físico que a Grap pode te oferecer. Chegar menos moído ao seu destino é algo que vale muito a pena.

Esta suspensão é para qualquer graveleiro? Obviamente não. Nas minhas provas de 1 dia, vou continuar competindo com o garfo rígido, consideravelmente mais leve, mas no caso de uma cicloviagem ou uma corrida de vários dias, como o famoso Bikingman, a Grap seria minha escolha de olhos fechados.

Para mim, o mais surpreendente depois de várias semanas de uso pesado, foi que, tirando o peso maior e o fato de modificar a geometria de algumas bikes, não consegui identificar nenhuma falha ou ponto negativo no funcionamento da Grap.

Só posso louvar a iniciativa de ProShock em oferecer um produto de alto nível pensado para as necessidades daqueles que pedalam uma Gravel Bike no Brasil. O preço da Grap, incluindo o adaptador Flat Mount e os redutores da câmara de ar está na casa dos R$ 2.600,00. Um valor condizente com a qualidade da suspensão, um produto que traduz com muita competência o lema da marca: “Tecnologia e Inovação 100% brasileira”.

Bora pedalar?

#KeepRidingGravel

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